Sarau na rede –
1º Sarau Tropeiro de Poesia Virtual – Edição de julho
Inverno, calor
das almas feito com verso, luz noz caminhos, e viva Nossa Senhora da poesia e
todos os santos juninos. Agradecemos a luz poética de todos pela valiosa
participação.
Oração do
artista
Ricardo Evangelista
Senhores deuses da arte, que estão conosco nos palcos, picadeiros, praças e
ruas de todo recanto deste país, santificai nossa função de divertir, poetizar,
sensibilizar e emocionar o público mais diverso onde quer que estejamos, mesmo
que a bilheteria seja pequena.
Daí--nos dignidade, saúde e harmonia para desempenharmos da melhor maneira o
nobre ofício de artista.
Protegei nossos passos no caminho infinito da imaginação e do lirismo e
obrigado pela fantasia poética fazer parte de nossa existência.
Fazei com que nosso talento se aprimore sempre e nos livrai da dor de cabeça,
da cólica, da inveja e da ziquizira.
Livrai-nos também, daqueles produtores que tentam nos passar a perna, dos
empresários lacaios do mercado cultural e do mau humor de alguns técnicos de
som.
Bendita seja nossa perseverança e paciência, para continuarmos fazendo arte
nesta cidade e neste estado.
E por fim, livrai-nos do mau agouro, do estrelismo, da desunião e da
arrogância, tão praticados por nós do meio artístico.
Agora e na hora do nosso fracasso e do nosso sucesso, amém!!!
O despertar dos
beneditos - Cena 1
Marco Llobus/Belo Horizonte-MG
vou rolar uma
palavra
e, que deus letra
a desemboque
em seus rios de segredos
até a voz
finar-me-ei em desarmonia,
despedindo das ilhotas,
... meu mar de memórias
enfim,
ascenderei por último a vela do afeto.
lhe darei um beijo
e partirei...
tornarei me novo,
tornarei me estranho
e me apagarei dos âmagos.
e neste mistério venturoso,
do “big bang” das auroras,
descortinado e eterno
bailarei entre as gotículas;
partituras de uma sintonia,
ora onda,
ora partícula,
e pelas imensidões do agora,
na dispersão dos acasos,
eu sopro
serei,
a candura de
uma pagina.
A bruxa do
lástimo
Rosângela
Álvares/ Belo Horizonte-MG
Bruxa do pensamento pequeno
do amor inexistente
manda o interior negativo
pelo carinho ausente.
Bruxa da vida longa
embalada pelo passado
inútil e obscuro
acha que sabe de tudo.
Não
conhece a claridade
a luz do bem que possui
a imensidão da luta
a conquista.
Sentiria feliz
encarando acontecimentos
como evolução da alma
doando na paciência.
Bruxa não entende
a vida de mudanças
da inovação do presente
da direção futura.
Vigia seu mundo
acompanha todos
invadindo os pensamentos
transformando em espinhos.
Bruxa que pode ser fada
precisa de uma direção
abrindo a sua vida
com sua vara de condão.
Quem é essa mulher
Cida Araújo/Vespasiano - MG
É mais uma das muitas
mulheres anônimas. Jamais foi vista no estrelato. Não cursou universidade. Não
recebeu nenhum troféu ou medalha de ouro.
Mas, quem é essa mulher?
Eu posso responder-te com toda categoria. A conheço desde o primeiro momento de
minha vida. Ela foi o ninho que me acolheu, protegeu e me deu condições de
desenvolver, crescer e ser o que sou.
É filha de Drimundina. Afro descendente das terras de Barão de Cocais. Que
deixou como legado a fibra a sabedoria e a resistência para sobreviver a todas
as crises e tribulações. Legado que contribuiu de forma definitiva para a
construção de sua identidade.
Aos vinte anos casou-se. A partir daí começou a procriação. Durante vinte e
cinco anos esteve envolvida com panos, noites mal dormidas e sobressaltos com o
cotidiano doméstico.
Dez vezes o seu ventre foi alojamento seguro para a constituição do que somos hoje.
Quatro homens de bem e seis mulheres de garra. Uma família que faz a diferença
na sociedade.
Durante vinte e cinco anos tornou-se imperceptível. Tudo girava em torno de seu
trabalho em prol da família, da educação, alimentação e formação.
Sem fraldas descartáveis, creches, berçários e tantas outras coisas que hoje
facilitam a vida.
Quem é essa mulher?
Quando teve espaço ela saiu pra fora de seu lar e deu sua contribuição na
sociedade.
Cristã autêntica transmitiu a sua fé com a vida. Como mestra usando a pedagogia
adequada, mas principalmente testemunhando com suas atitudes.
Com mais de oitenta anos. Aos poucos sua força física vai definhando. Já não
tem tanto vigor na voz. O desgaste proveniente do esforço de sobrevivência
atrofia o seu corpo impedindo-a de locomover-se com agilidade. Porém o seu
espírito, a sua fé, a sua coragem, o seu desejo de ajudar permanecem
inabaláveis. Mesmo sem poder sair de sua casa e andar pelas ruas, de seu canto
ela reza, reza e reza. A oração é hoje a sua contribuição para o mundo.
Quem é essa mulher?
Essa mulher é a minha querida mamãe.
Elza Gomes dos Santos, a quem presto
homenagem.
Chora
viola
Rosana
Papa/Belo Horizonte- Minas Gerais
Nas
cordas de minha viola
Dedilhadas
com paixão
Busco
a nota preferida
Para
conter o coração
Minha
viola chora
O
canto dos esquecidos
Deste
caminho que digo
Ser
de dura explicação
Chora
minha viola
Esta
mágoa sofrida
De
um coração que amou
E
sofreu tanta desdita
Minha
viola chora
A
solidão da noite
Que
castiga qual açoite
Por
não ter mais emoção
Chora
a minha viola
Buscando
em notas perdidas
A
tristeza sem medida
Por
falta de compaixão
Minha
viola chora
Por
tanta desilusão
Ao
ver partir a eleita
Sem
ela não vivo não
Minha
viola chora
E
deixa o som no coreto
A
esperar pelo eco
Do
som da bela ilusão
Chora
a minha viola
As
lágrimas perdidas
Pelo
solo derramado
Para
molhar este chão
Chora
a minha viola
Esquecida
lá no canto
Pois
perdeu todo o encanto
Que
a fazia viver
E
deixa notas sofridas
Por
não ser mais dedilhada
A
viola está cansada
Jogada
lá no porão!
Amigo do Rei
Ivan
Ferretti Machado/São Paulo-SP
Hoje
quero vestir-me com a minha melhor roupa
Colocarei
no rosto o meu melhor sorriso
E esse
meu corpo velho e cansado
Envolverei
com os meus melhores sonhos
Hoje eu
quero arrepender-me
De todos
os meus pecados,
Corrigir-me
de todos os meus erros e,
Para
provar que sou fiel ao Rei,
Destituir-me-ei
de todos os meus vícios
Revestir-me-ei
da minha melhor fé
E
transbordando de felicidade,
De
braços abertos, receberei o Rei
Pois
saibam que anunciaram pelos quatro cantos
Que hoje
à tarde o Rei nos agraciará com a sua visita
E se me
perguntarem qual a razão de tanta alegria,
Direi
apenas: ----É que eu... Sou amigo do rei!
Agendas
Regina
Araújo/Belo Horizonte-MG
Na
agenda de trabalho,
amontôo
informações
mantendo
tudo organizado.
Na
agenda de minha mente,
relembro
o factual
de
um dia vivido intensamente.
Na
agenda de mão,
guardo
os contatos
daqueles
que realmente amigos são.
Na
agenda do meu peito,
carrego
as marcas das emoções
que
descansam quando me deito.
Na
agenda infinda de Deus,
anoto
os desejos que são somente meus.
Semi-fosco
Lopes Cançado de la Rocha/Santa Luzia-MG
Sou
pequeno de mais para ser alguém
Que
não queira crescer um pouquinho de cada vez
Quando
pequenino aprendi a colorir
Logo,
já menino, me puseram a desenhar
Depois
de crescido me arrisquei a escrever
Agora
já sofrido preciso apagar
Os
traços que’u errei bem lá atrás
Se’u
não poder construir
Que
recolham meus tijolos
O
iluminar perde o seu brilho
Se
quem propaga não é um filho da luz
Sou
imenso demais para ser ninguém
Que
queira encolher um montão de uma só vez
Quando
bem velhinho precisei me retocar
Depois
de renovado o sorriso reaprendi
De
olhos clareados eu já conseguia ler
Agora
renascido eu já posso perdoar
Os
estragos qu’eu farei quando errar
Se’eu
não puder reconstruir
Que
enterrem meus destroços
O
iluminar perde o seu brilho
Se
quem propaga não é um filho da luz
Assombração
Sueli Silva/Arcos –MG
Arqueia, zaquenda,
pipoca, vira corisco
se pica.
que lá évem.
Se pensa que é mentira,
se arrisca
pára e fica
zombeia.
Ou,
escorre, pira o pira
gorpeia, pica a mula
dá linha,
corre para dentro e fecha a
porta.
que já évem.
Se pensa que é mentira,
delata,
acoa,
mManga,
ou
se fina, voa
tropica, finca pé.
Se é ou não é
se liga,
encantoa e doma.
Afinal não é só
imaginação???